As câmaras que fotografaram o 25 de Abril de 1974 | câmaras fotográficas SLR Canon
07.10.2025

Estas foram as máquinas com que fiz a reportagem mais importante da minha vida. O 25 de abril de 1974, foi o dia em que me senti verdadeiramente livre, com a esperança de um Portugal livre.
Eduardo Gageiro
A 25 de Abril de 1974, Eduardo Gageiro trabalhava como fotojornalista no jornal O Século, onde havia um grupo muito politizado. Nesse dia, às seis da manhã, ligaram-lhe para casa avisando-o da operação militar: “Hoje é que é, vai já para o Terreiro do Paço e leva os rolos todos”. Levou consigo duas câmaras fotográficas ambas de formato 35mm, uma SLR Canon F-1 e uma SLR Canon FT-QL.
Foi o primeiro repórter a chegar ao Terreiro do Paço naquela manhã e num golpe de sorte e com astúcia conseguiu acompanhar de perto os desenvolvimentos da Revolução: “Chego lá, apresento-me: «eu chamo-me Eduardo Gageiro». E do outro lado, ouço: «eu chamo-me Salgueiro Maia». Como O Século Ilustrado e a Flama eram as bíblias da altura, ele conhecia o meu nome. «Pode andar comigo», disse. Assisti a tudo, a todas as negociações.”
Para Eduardo Gageiro a fotografia que melhor define a Revolução é aquela em que vemos Salgueiro Maia a morder o lábio e a conter a emoção após a rendição do Major Pato Anselmo. Foi um momento bastante tenso e decisivo para o sucesso do 25 de Abril.
A coluna militar de Salgueiro Maia seguiu para o Largo do Carmo e Eduardo Gageiro foi acompanhando todos os desenvolvimentos e disparando através do olhar das suas lentes. Deixou-nos importantes testemunhos do cerco ao Quartel do Comando-Geral da GNR e da rendição de Marcello Caetano, presidente do Conselho de Ministros. Acompanhou, também, os acontecimentos durante o cerco à sede da PIDE/DGS na Rua António Maria Cardoso, que durou desde a noite de 25 de abril até à manhã de dia 26. A última fotografia do último rolo que tinha na noite de 25 abril foi a da detenção de um agente da PIDE/DGS que ficou em cuecas, pois baixaram-lhe as calças por suspeita de uma arma escondida. Uma fotografia que foi amplamente divulgada na imprensa nacional e estrangeira.
Na manhã seguinte e nos dias seguintes à Revolução as suas câmaras fotográficas sempre o acompanharam prontas a disparar as imagens que se tornaram verdadeiros testemunhos da Liberdade.
No 25 de abril, eu estava ali de coração aberto, encantado, não pensei em morrer sequer, estava cheio de esperança.
Eduardo Gageiro
A Canon foi fundada em 1933 com a designação Precision Optical Instruments Laboratory, em Tóquio, no Japão. O Modelo FT-QL foi fabricado entre 1966 e 1972 e o fabrico de modelos F-1 e lentes FD foi introduzido em 1971.
Ficha de Identidade
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Câmara fotográfica SLR Canon F-1 n.º 202056. Formato 35mm. Velocidades do obturador: 1 - 1/2000, B. Objetiva Canon FD n.º 14630, 24mm, f/1.8. Bateria com pilha PX625. (Japão, 1971-1974).
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Câmara fotográfica SLR Canon FT-QL n.º 248788. Formato 35mm. Velocidades do obturador: 1 - 1/1000, B e X. Objetiva Canon Zoom FD n.º 147045, 100-300mm, f/5.6. Bateria com pilha PX625. (Japão, 1966-1972).
Coleção Municipal Eduardo Gageiro (N.º de inv EG/EFC/097)
Filipa Simões