Torres Vedras

Vaso Campaniforme

21.04.2025

Vaso Campaniforme

O Museu Municipal Leonel Trindade possui um notável conjunto de recipientes pré-históricos de cerâmica, profusamente decorados, que os arqueólogos designam por vasos campaniformes. O nome tem origem num vaso relativamente estreito e alto, de perfil sinuoso, que, invertido, se assemelha a uma campânula ou sino – em latim, campana. Para além da elegância da forma, da proporcionalidade das dimensões e da qualidade das argilas e dos acabamentos, o prestígio destes recipientes advém, também, da profusa decoração que os caracteriza.

Em regra, apresentam composições geométricas – exceptuando-se as raras representações de cervídeos, de traço igualmente rectilíneo –, conseguidas por meio incisões feitas por um estilete e/ou de impressões obtidas por um pente de osso ou pelo bordo ondulado de uma concha de berbigão, que resultam num característico efeito pontilhado. Frequentemente, as incisões e impressões são preenchidas por uma pasta branca, que destaca a decoração.

Os mais antigos vasos campaniformes são decorados por bandas horizontais impressas, preenchidas por sucessivas linhas oblíquas pontilhadas, formando um padrão decorativo espinhado, conhecido por internacional ou marítimo, dada a expansão que veio a ter pela Europa Ocidental e Central. A decoração campaniforme irá aplicar-se também a vasos que não têm forma de campânula – taças, caçoilas acampanadas, garrafas e bilhas –, nos quais predominam os motivos triangulares e metopados.

Os vasos campaniformes encontram-se tanto em povoados como em necrópoles, revelando uma utilidade quotidiana e, simultaneamente, uma importância simbólica nos rituais fúnebres. São hoje considerados uma produção estremenha, nomeadamente do Zambujal, onde terão surgido entre 2650 e 2600 a. C., como uma evolução dos chamados copos canelados – recipientes presentes no povoado desde o início da construção das primeiras muralhas. Gradualmente, copos e pratos de bordo espessado foram sendo substituídos pelos vasos e taças campaniformes, que mantiveram idêntico processo produtivo e funcionalidade.

As produções campaniformes acharam-se apenas no centro do povoado, associadas a elementos de um conjunto de novos bens de prestígio, que também guarneciam algumas sepulturas individualizadas no interior dos sepulcros colectivos, e que constituíam o equipamento de um guerreiro: pontas de seta de sílex, punhais de cobre, pontas de cobre ditas “de Palmela”, botões de osso com perfuração em “V”, braçais de arqueiro e, por vezes, artefactos de ouro e marfim. A associação variável de elementos deste conjunto de artefactos utilitários e rituais, designado por “pacote campaniforme”, terá constituído a expressão material de uma hierarquização da sociedade e da emergência de uma nova elite: os guerreiros-arqueiros.

A partir da Estremadura portuguesa, onde se regista o maior volume e diversidade de ocorrências, o fenómeno campaniforme difundiu-se por toda a Europa, expressando uma afinidade social e cultural comum, que teve lugar há 5 mil anos.

 

Ficha de Identidade

  • Vaso Campaniforme
  • MMLT.005579
  • Período Calcolítico

Isabel Luna, 2025

Última atualização: 21.04.2025 - 15:47 horas
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