Mosteiro e Convento de Nossa Senhora da Graça
01.11.2011
Em 1266, Frei Félix, segundo provincial da ordem dos eremitas de Santo Agostinho em Portugal, pediu a D. Afonso III, o bolonhês, autorização para se fundarem três conventos, um em Abrantes, outro em Estremoz e outro em Torres Vedras. A autorização foi dada por alvará, datado de Santarém, 24 de dezembro da Era de 1266.
Todavia, a edificação do mosteiro não aconteceu, voltando o concelho a solicitar a respetiva autorização a D. Pedro I que, encontrando-se em Moura em 14 de março de 1366, deu nova licença para a referida fundação. Nesta sequência, iniciar-se-ia a construção do edifício no sítio da Várzea Grande, defronte da igreja de São Tiago, prolongando-se os trabalhos durante décadas, uma vez que em 1383 ainda decorriam as obras e, em 1405, a sacristia ainda não tinha sido edificada. Desta fundação, a primitiva, pouco mais conhecemos, dada a escassez das fontes, para além das referências a São Gonçalo [de Lagos] como prior do mosteiro, entre 1412 e 15 de outubro de 1422, data da fixação da sua morte. As cheias que frequentemente faziam transbordar o rio Sisandro, inundando a Várzea Grande nos invernos rigorosos, tornavam difícil a vida do convento ao longo do século XV e primeiras décadas de Quinhentos, sendo os eremitas de Santo Agostinho obrigados a abandonar o mosteiro.
Deste modo, o convento mudou-se para o hospital de Santo André [igreja de Santo André da Gafaria], em 1544, no atual sítio do convento de Nossa Senhora da Graça, por ordem de D. João III, que solicitara autorização ao Papa Paulo III para o doar aos frades Agostinhos. A 20 de setembro desse ano, o monarca, dirigindo-se ao Provincial da Ordem, Frei Francisco de Vilafranca, solicitava-lhe que tomasse a posse do hospital logo que fosse possível.
Em 1559, o edifício velho começou a ser demolido para se aproveitarem os materiais para a construção da nova igreja, que já se encontrava pronta em 1580. Apesar dos escassos dados relativos ao mosteiro, sabemos, porém, que se encontrava em construção bastante adiantada em 1566. As obras arrastaram-se, pelo menos, durante as duas décadas seguintes, recebendo o impulso do próprio Frei Aleixo de Meneses, futuro bispo de Goa, durante o seu curto priorado (1588-1590).
Desde 1578, os direitos do antigo hospital foram anexados ao mosteiro, tendo-se obrigado os frades, em contrapartida, ao recolhimento e tratamento dos leprosos, assim como a cumprirem as missas e os encargos inerentes ao extinto hospital.
No primeiro quartel do século XVIII, iniciou-se um esforço de restauração religiosa no qual se insere uma renovação arquitetural do mosteiro torriense. A porta e o frontão foram reedificados, tendo as paredes da portaria, da sacristia e do claustro recebido, a partir de 1725, painéis de azulejos. O convento crescia em fama e influência, atingindo o ponto alto em 1778, ano da canonização de Frei Gonçalo de Lagos por Pio VI.
Em 1834, extinguiram-se as ordens religiosas, por decreto datado de 30 de maio. Desde então e sobretudo até 1887, a sua história é feita de silêncios. Sabemos, porém, que em 1842, foi vendido em hasta pública ao advogado torriense Inácio Ferreira Campelo e que, em 1881, se encontrava na posse do padre Sebastião Pedro Martins Ribeiro, residente no Louriçal do Campo, e que, a 30 de junho de 1886, este vendeu-o ao padre Francisco Maria Rodrigues de Oliveira Grainha, morador na Covilhã. No ano seguinte, a Câmara Municipal comprou o edifício para instalação de diversos serviços públicos, mantendo-o na sua posse até à atualidade.
No reconhecimento do seu interesse patrimonial, o mosteiro e igreja foram classificados, em 6 de dezembro de 1958, como Imóveis de Interesse Público. A igreja foi reaberta ao culto em 1992. O edifício do convento, depois do seu restauro, reabriu em 1990, albergando, dois anos depois, o Museu Municipal.
Carlos Guardado da Silva