Torres Vedras

Rui Gato

01.10.2022

Fotografia de Rui Gato sob a sombra de várias árvores.

Música, geometria e luz constituem a trilogia de eleição para Rui Gato. Se a luz inclui o vídeo, as artes de cena e de instalação, a geometria deixou bases para a pesquisa nas diversas áreas artísticas em que tem trabalhado. “Sempre foi um interesse que tive a sorte de conseguir explorar quando estudei Arquitetura” explica, sobre uma licenciatura que viria a sucumbir à paixão pela música.

“Foi quase inevitável ter interesse pela música, que sempre me acompanhou.” Afinal, “em casa sempre se fez e ouviu muita música: o meu pai cantava, a minha prima e o meu tio também, o meu avô tocava carrilhões e guitarra.” Uma inevitabilidade que faria da música uma constante no seu percurso artístico e profissional.

A vontade de explorar novas ferramentas (e formas de subsistência) levou a sua criatividade até à imagem sintética. Um período que ficou marcado pelo trabalho com uma produtora de conteúdos multimédia, a que se seguiram as artes do espetáculo, integrando a Companhia João Garcia Miguel.

Da música às artes de palco, a verdade é que a sua pesquisa acabou por evoluir para a interatividade, com a programação a assumir-se como a sua principal ferramenta de trabalho.

Atualmente, dirige o laboratório do ateliê OCUBO, que trabalha, precisamente, em torno da interatividade. É a partir do coração da cidade de Torres Vedras que o artista se dedica às artes audiovisuais, recorrendo, principalmente, a ferramentas digitais.

Rui Gato faz uma “divisão” muito clara no que toca à aplicação da criatividade. De um lado está a música, “muito ligada à parte mais emotiva” e livre de qualquer pressuposto (mesmo do público). Um trabalho que faz quase sempre sozinho e que tem como objetivo a procura de uma expressão artística “o mais livre possível”.

“Do lado mais racional, da curiosidade intelectual, estão os campos mais visuais” esclarece. Aqui, o trabalho de equipa revela-se fundamental. “O trabalho que faço n'OCUBO está mais ligado a esse lado. Estou sempre a tentar inovar pela curiosidade, pelo conhecimento: tentar saber mais sobre como fazer partículas, como fazer luz controlada por sensores, interatividade, por aí fora.”

Hoje em dia, a sua principal pesquisa artística centra-se na ligação entre a geometria e a música. Uma pesquisa que “ainda vai durar muitos anos”, mas que já deu origem à GeoMusica, uma ferramenta que permite fazer música a partir de geometria e que se encontra disponível na internet para utilização livre.

Se até agora o foco tem estado nas ferramentas digitais, a verdade é que há dois campos de que se começa a aproximar. Por um lado, a utilização da luz solar “para gerar outputs [resultados] artísticos diretamente, acho que isso pode ser muito interessante.” Por outro lado, a sustentabilidade, com o objetivo de tornar as peças “independentes, autónomas ou mesmo regenerativas, de alguma forma.”

Rui Gato distancia-se do sentimento de autoria ou paternidade do objeto artístico. Prefere falar numa “espécie de acompanhamento. A obra artística acompanha-te, é um parceiro teu. É uma relação como se estivesses a descobrir alguém, mas neste caso esse alguém vem de ti.” Independentemente do processo e do formato, “a razão principal é a satisfação da curiosidade."

Texto: Rita Santos

Imagens cedidas por Rui Gato

Última atualização: 15.12.2022 - 17:24 horas
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