Júlio Vieira
05.08.2022
Nascido em Torres Vedras, em 1880, Júlio do Nascimento Vieira foi uma das figuras mais marcantes da política e cultura torriense da sua época. Jornalista, historiador, político, dirigente associativo e sindical, procurou impulsionar o desenvolvimento do Concelho durante o período de transição da monarquia para a república.
Estudou na Escola de Belas Artes de Lisboa, sendo autor de vários quadros a óleo, cuja localização é desconhecida. Em 1925, ilustrou um exemplar de Os Lusíadas, obra que esteve exposta na I Exposição Agrícola, Pecuária e Industrial de Torres Vedras, em 1926, tendo-lhe sido atribuída a Medalha de Ouro pelas iluminuras. Também o ex-líbris de Júlio Vieira, criado por si para identificar os livros da sua vasta biblioteca, esteve exposto na I Exposição de Ex-Libris Nacionais e Estrangeiros, em 1927, onde recebeu o Diploma Comemorativo de Expositor.
A faceta de historiador revelou-se no livro Torres Vedras Antiga e Moderna, da sua autoria, publicado em 1926. A obra é uma importante monografia sobre Torres Vedras, resultado de uma intensa pesquisa histórica desenvolvida ao longo de muitos anos.
A escrita também marcou presença na sua vida através do jornalismo. Foi proprietário, editor e diretor dos jornais semanais regionais Folha de Torres Vedras (1905- 1913) e A Vinha de Torres Vedras (1913- 1919). Nos anos de 1906 e 1907 editou o Anuário da Região de Torres Vedras.
Júlio Vieira esteve sempre envolvido na vida política, social e cultural de Torres Vedras, ocupando vários cargos: presidente da Comissão Municipal Republicana de Torres Vedras, provedor da mesa da Santa Casa da Misericórdia de Torres Vedras, sócio fundador do Centro Republicano Torreense, membro da direção do Sindicado Agrícola de Torres Vedras, presidente da Associação de Socorros Mútuos 24 de Julho de 1884, fundador e membro da direção da corporação de Bombeiros Voluntários de Torres Vedras, membro da Comissão Organizadora da Providência Agrária e administrador-delegado da Comissão de Iniciativa das Termas dos Cucos e Praia de Santa Cruz. Este último cargo manteve até à data do seu falecimento, em 1930.
À Comissão de Iniciativa das Termas dos Cucos e Praia de Santa Cruz, que iniciou atividade em 1926, devem-se relevantes intervenções realizadas no Concelho, nomeadamente em Santa Cruz, como por exemplo as esplanadas, as muralhas sobre as arribas, com as respetivas balaustradas, e as escadarias de acesso à praia.
Como reconhecimento do trabalho desenvolvido em prol de Santa Cruz, foi dado o nome de Júlio Vieira à escadaria que liga o Largo Francisco Maria Bacelar à Praia de Santa Helena. O seu nome também se encontra na toponímia da cidade de Torres Vedras.
O espólio da biblioteca particular de Júlio Vieira levou à criação da Biblioteca Municipal de Torres Vedras, em 1934. Em obras mais antigas da biblioteca, é possível encontrar o ex-libris de Júlio Vieira. Em 1990, a Câmara Municipal de Torres Vedras atribuiu-lhe a Medalha de Ouro de Mérito Cultural, a título póstumo.