Torres Vedras

Ema M

01.01.2020

Pormenor de

“Alguns jardins são de tal forma tocantes que me emocionam” afirma Ema M, quando questionada sobre o que mais a fascina na pintura. Ema M (pseudónimo de Margarida Prieto) não nega o “fascínio” por obras das mais variadas áreas: da música de Franz Schubert, Robert Schumann, Arvo Pärt e Johann Sebastian Bach, à escultura de Machado de Castro, Camille Claudel e Auguste Rodin, sem esquecer a pintura de Giotto, Jean-Léon Gérôme, dos pré-rafaelitas e de Mark Rothko.

Afinal, a artista, natural de Torres Vedras, é mestre e doutora em Pintura, a que se alia a licenciatura em Artes Plásticas, sempre pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL). “Este deslumbramento faz-me acreditar que a humanidade é capaz de fazer coisas extraordinárias, de se exceder em direção ao bem, ao belo e ao bom” conta. “Dá-me esperança.”

Como crê que acontece com “as relações mais profícuas da nossa vida”, a relação com o mundo das artes teve início ainda em criança. O contacto com acontecimentos de natureza artística das mais variadas formas dá origem a um “efeito transformador que é emocionante” e que Ema M tem como “fundadores de experiências reveladoras.”

A dedicação à pintura é inequívoca. Mas a artista revela que gosta de desenhar e de poesia visual. “[Gosto] de articular as imagens e as palavras, de fazer jogos com elas.” Isto porque, como explica, “hoje, todos os artistas com formação têm uma ampla experiência técnica.”

Ao trabalho artístico alia-se o trabalho académico e administrativo. Margarida Prieto é docente da licenciatura em Artes Visuais na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT) e do mestrado em Pintura da FBAUL. A seu cargo está a direção da licenciatura em Artes Visuais da Escola de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação da ULHT, a que se soma o recente convite para dirigir a Escola Superior de Comunicação, Inovação e Artes do Instituto Politécnico da Lusofonia.

“Tenho muito gosto em partilhar conhecimento, em ensinar a técnica, a teoria, a testemunhar as descobertas dos estudantes” partilha, sem deixar de notar as “naturezas distintas” dos trabalhos académico e administrativo.



Desafiada a olhar para o panorama artístico, denota a existência de “níveis ou hierarquias” e denuncia uma “relação – equívoca – entre o que é obra e o que é produto, ou seja, entre o que é um objeto artístico e qual a sua cotação de mercado, o seu valor económico.” A existência de “alguma confusão entre as escolhas institucionais” acaba por levar a que “muitas obras excelentes (e, por consequência, os artistas que as fizeram) tendam a ficar excluídas do circuito.”

Por outro lado, a artista releva o papel da programação de galerias municipais e associações culturais regionais para o desenvolvimento de jovens artistas. “Hoje, em Portugal, existem já instituições importantes dedicadas à cultura e há uma comunidade artística bem ativa mas ainda demasiado desapoiada” diz, para apontar a falta de legislação específica “que proteja e garanta aos artistas as mesmas condições que são dadas a outros profissionais.”

Atualmente, Ema M integra a exposição coletiva Pintura como Pensamento que se encontra na Paços – Galeria Municipal de Torres Vedras e que, segundo a curadora Zalinda Cartaxo, “reúne obras, especificamente, de artistas que conciliam a prática artística com a reflexão teórica.” Para Ema M não restam dúvidas de que “é a obra que torna patente e evidente a teoria”, recordando que “o termo ‘teoria’ significa exatamente isso: o exame conceptual ao que está feito (à obra realizada).”

Em Torres Vedras encontra uma “ampla oferta” cultural “que é também veiculada com a iniciativa e pro-atividade dos seus cidadãos”. Do local onde se encontra parte da família, gosta “do seu espírito de comunidade. Gosto que seja, ainda, um lugar que se pode percorrer a pé, embora as periferias estejam a desenvolver-se e quem lá mora talvez não tenha esta opinião.”


Imagens: Pormenor de A viagem dos Reis Magos, Ema M, série de oito, lápis de cor s/ papel fabriano, 100x70 (cada), 2019. A partir de Sassetta ou Setefano Di Giovanni (1400-1450), A viagem dos Reis Magos 1433-35, tempera e ouro sobre madeira, 21.6x29.8 cm, met museum.



Rita Santos

Última atualização: 22.01.2020 - 09:12 horas
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