Torres Vedras

Chico da Bola

07.04.2015

Francisco Porfírio, também conhecido como Chico da Bola, foi uma figura indissociável do Carnaval de Torres. Durante décadas fabricou os cabeçudos tão característicos deste Entrudo.

Por ocasião do seu falecimento, a Câmara Municipal de Torres Vedras expressa as suas sentidas condolências à família e, em gesto de homenagem e agradecimento, reproduz a entrevista originalmente publicada na Revista Municipal "Um Concelho" em fevereiro de 2009.

O que representa o cabeçudo no Carnaval de Torres?

É uma figura muito antiga que começou por ser feita em papelão e representava personagens idealizadas, como o Zé Povinho. É um boneco muito engraçado que toda a gente sempre gostou de ver no Carnaval de Torres. Tem também a característica de assustar as crianças, lembro-me dos pais a dizerem-lhes para não terem medo e a explicarem que o cabeçudo é manipulado por uma pessoa que está dentro de uma armação.

É um boneco muito engraçado que toda a gente sempre gostou de ver no Carnaval de Torres.

Como começou a sua atividade de fabricação de cabeçudos?

Comecei esta atividade, depois de completar a escola primária, com um grande artista da nossa terra, o senhor Luís Faria, que foi o meu grande mestre. Gostava muito de ver a fabricação dos cabeçudos e ele ao perceber o meu interesse convidou-me para aprender essa arte. Portanto, ainda era criança quando comecei a fazer cabeçudos e fui-me aperfeiçoando com a grande dedicação do senhor Luís Faria.

O que o levou durante décadas a investir nessa arte?

Porque gostava dela, muito, muito, muito, até porque sou um interessado por qualquer tipo de arte. Trabalhava na construção civil, como estucador, na altura em que se fazia trabalhos muito bonitos nos tetos, e interrompia a minha atividade profissional todos os anos para me dedicar ao carnaval. Um trabalho que sempre gostei especialmente de fazer é o boneco do Enterro do Entrudo.

Um trabalho que sempre gostei especialmente de fazer é o boneco do Enterro do Entrudo.

O senhor Francisco fez também trabalhos para pessoas e entidades de outros locais de Portugal e até do estrangeiro…

Por intermédio do dr. Sardinha fiz para um museu luso-alemão situado em Hamburgo um casal de gigantones vestidos de noivos, uma figura de um ardina e outros bonecos. Em Portugal fiz cabeçudos para o Carnaval da Marinha Grande, para um grupo de foliões de Lisboa e para pessoas de vários outros locais.

Na sua opinião a fabricação de cabeçudos tem futuro?

Sim. Na nossa terra temos grandes artistas como os da empresa Guliver que darão continuidade a essa tradição utilizando a fibra de vidro. Recordemos os cabeçudos dos últimos carnavais que são lindíssimos e representam com exatidão as respetivas personagens. Aliás, penso que em país algum se fabricam figuras em fibra de vidro com tanta qualidade como em Portugal.

Tem também dinamizado ateliês de fabricação de cabeçudos no Centro de Educação Ambiental para crianças e adultos. Que balanço faz dessas experiências?

Tenho gostado porque apercebo-me que os participantes têm bastante interesse. Já fiz também algumas dessas ações em escolas. Em todas estas atividades tenho, por exemplo, o cuidado de não usar cola porque faz mal à saúde, uso um preparo com farinha que serve para colar. Nestes ateliês explico também como se podem fazer outras figuras em papelão para além de cabeçudos. Em tempos cheguei mesmo a fazer presépios em papelão.

Como tem visto a evolução do Carnaval de Torres ao longo das últimas décadas?

Tem sido uma evolução maravilhosa. Com grandes artistas a trabalhar para este carnaval e carros alegóricos lindíssimos que são apresentados todos os anos. Um primo meu de Lisboa que durante muitos anos veio ao Carnaval de Torres ficava admirado com a forma como as pessoas lançavam os cocotes, sem qualquer tipo de desordem. Ficava maravilhado com o comportamento das pessoas no carnaval. Eu tenho muito orgulho de ser torriense... Costumo ouvir as pessoas de fora que vêm assistir aos corsos a dizer que voltam no próximo ano. E o facto é que o carnaval sempre teve muita gente, mas agora é uma coisa que não tem explicação…

Eu tenho muito orgulho de ser torriense... Costumo ouvir as pessoas de fora que vêm assistir aos corsos a dizer que voltam no próximo ano.

Como antevê o Carnaval de Torres no futuro?

O Carnaval de Torres no futuro será sempre a melhorar. Se continuasse como é hoje já seria um grande carnaval. Será um carnaval em que as pessoas ao saírem dos corsos continuarão a dizer que voltam no próximo ano.

Publicado: 07.04.2015 - 15:28 horas
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