Torres Vedras

Enterro do Entrudo

09.02.2024

queima do entrudo

Designa-se de Entrudo o boneco, símbolo da quadra, tradicionalmente feito de palha, que é queimado anualmente na quarta-feira de cinzas, após o julgamento e a leitura do testamento.

Em muitos locais, o enterro do Entrudo toma designações variadas, como João, na zona limítrofe do Porto, ou Carlos também na zona norte de Portugal. Na região saloia há quem lhe chame Enterro do Bacalhau ou simplesmente Enterro do Carnaval. 

Em Torres Vedras, o local do enterro foi durante muitos anos no largo de S. Pedro e largo da Graça.

Pelo menos desde o início do século XX que o enterro do entrudo se realizava na cidade de Torres Vedras. Uma notícia de época faz referência ao enterro de 1908: “Na quarta feira ainda se realisou o enterro do entrudo no qual tomou parte um numeroso grupo que percorreu desde as 8 da noite até cerca das 10 horas as principaes ruas da villa acompanhando de uma música que tocava uma marcha fúnebre em passo cadenciado e levando n’um esquife a figura do Carnaval que terminou os seus dias de 1908, n’uma fogueira acesa no largo da Graça. A esta romaria fúnebre não faltou grande número de devotos que em magotes o acompanhou (…)” (“Folha de Torres Vedras” de 8 de março de 1908).

Atualmente, o enterro inicia-se com o cortejo fúnebre, que parte do centro histórico até ao largo em frente do tribunal, sendo composto pelo julgamento e testamento (aos quais subjaz o momento de crítica política e social), culminando com a condenação do rei à morte e a queima do boneco que o personifica (queima do Entrudo).

Durante o percurso do cortejo até ao tribunal, onde decorrerá o julgamento, a viúva (figura interpretada durante muitos anos pelo “Corneta”) agarrada ao rei lamenta-se e grita, acompanhada por carpideiras que simulam sonoros choros.

 

Julgamento

Este ritual trata-se de uma encenação satírica e jocosa, no qual a personagem central é interpretada pelo Rei (o condenado), as testemunhas, o juiz (que julga) e o carrasco (membro da associação Lúmbias) que o acompanha durante o cortejo até ao tribunal, e após o julgamento, até ao local onde simbolicamente será queimado.

 

Leitura do testamento

O juiz anuncia que o rei será condenado e por isso irá ser queimado na fogueira. Resta-lhe ler o seu testamento.

O testamento consistia tradicionalmente numa crítica social local, que deixava recados para toda a vila, a pessoas particulares ou autoridades locais, o qual era lido duma forma irónica e jocosa.  Os versos do testamento começavam sempre com a expressão “Deixo a …”

 

Personalidades como Jaime Umbelino, Manuela Roque, Maria João Rodrigues, António Cruz, Luís Alberto Passos Novas e, mais recentemente, Carlos Miguel foram alguns dos autores de testamentos lidos no enterro.

 

Queima do entrudo

Após a leitura do testamento, o carrasco acompanha o rei até à praça da Liberdade, onde irá decorrer a queima do entrudo.

Sobre dois paus verticais assenta um barrote de madeira horizontal, no qual o boneco é pendurado pelo pescoço, por uma corda, simulando um enforcado.

O boneco, armadilhado com material pirotécnico, é incendiado, fazendo rebentar as bombas no seu interior, ecoando-se sucessivos e barulhentos estrondos até à sua destruição total pelo fogo.

A festa conclui-se com fogo-de-artifício.

 

 

Texto: Ana Almeida, Centro de Artes e Criatividade de Torres Vedras

Fotografia: Manuel Guerra Pereira 

 

 

Última atualização: 09.02.2024 - 12:15 horas
voltar ao topo ↑