Torres Vedras

André Avelar

25.11.2021

Fotografia de André Avelar

“É importante ter a consciência de que a arte é um acontecimento gerado no mundo das ideias e uma obra é apenas um pedaço materialmente finito dessa multiplicidade infinita”. É assim que André Avelar olha para a arte e para as suas obras.

O artista, natural de Torres Vedras, licenciou-se em Artes Plásticas, pela Universidade de Évora, e encontra-se a concluir o mestrado em Pintura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Foi no ensino secundário que descobriu o interesse por esta área, quando entrou para o curso de Artes Visuais com o objetivo de seguir arquitetura, mas “depressa me deixei enamorar pela aliciante liberdade que as artes visuais propunham”. Desde 2008, concilia o trabalho artístico com o de docente do grupo de Artes Visuais do 3.º ciclo do ensino básico e do ensino secundário.

Em 2020, apresentou a sua primeira exposição individual na Paços – Galeria Municipal de Torres Vedras. Os trabalhos da mostra intitulada Carne deram a conhecer parte da pesquisa conceptual e formal da pintura que tem vindo a desenvolver. “A exposição foi de enorme importância para mim”, revela, acrescentando que a “oportunidade de dar a ver aquilo que faço sozinho, na intimidade, permitiu amadurecer o desapego” das peças. André Avelar destaca também “a ressonância muito positiva” que a mostra gerou no público. “Aperceber-me que fugiu totalmente à indiferença, que despertou o seu propósito, levantar questões, novas abordagens e inquietações, é um bálsamo para continuar nesta teimosia de fazer coisas.”

O projeto artístico de André Avelar é marcado pela existência de uma linha orientadora que se relaciona com a “necessidade de ver no papel, ou outro meio, imagens fruto dos meus interesses e inquietações”. “O tema central da minha investigação surge da relação do corpo com a máquina, a idolatria da máquina, a proximidade excessiva do natural com o artificial, que monstrifica e torna obsoleto”, acrescenta.

O processo criativo, “numa fase inicial, desenvolve-se numa livre associação de ideias”, através de colagens e montagens, maioritariamente digitais, elementos fotográficos e desenho. Em algumas obras, o artista utiliza também técnicas antigas de fotografia analógica, como cianotipia, goma bicromatada e gumoil, que posteriormente mistura com outras técnicas, como óleo, acrílico, grafite, spray, entre outras. “Depois, por consequência, passam para o papel ou para a terceira dimensão, em esculturas de técnicas mistas.”

O imaginário visual e as técnicas utilizadas revelam as suas principais referências. Entre elas está a ficção científica: “cresci a ver filmes e a ler sobre futuros distópicos, ciborgues, androides e robôs, vejo tudo, dos filmes de culto de autores aclamados a autores menos conhecidos, como o Shinya Tsukamoto”. E, no âmbito das artes visuais, o movimento Dada, que cativa o artista sobretudo pelas “representações híbridas de homem com máquina do Raoul Hausmann, criaturas estranhas que mais tarde seriam consideradas representações iniciais do que hoje identificamos como ciborgues.” Hans Bellmer e Francis Bacon são outras grandes influências pela “forma como trabalham o corpo”.

Besta de duas cabeças, 2018. Técnica mista sobre papel, 120x175 cm

Publicado: 25.11.2021 - 12:40 horas
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