Torres Vedras

Agenda

Rien

Exposição de Fotografia, de André Cepeda

Até 10 de maio 2014

Exposição

Evento já ocorrido

Local: Câmara Escura, Rua da Cruz, n.º13 - Torres Vedras

O aspecto mais marcante das imagens que compõem a série Rien de André Cepeda é a sua frontal, taxativa e crua literalidade. Uma pedra suspensa no negro, uma parede com marcas do tempo e do mau trato, um fio eléctrico que atravessa um tecto, uma mulher nua que se expõe são isso mesmo. A expressão central aqui é “isso mesmo”. O que está nas imagens pode ser descrito, com bisturi, pode ser analisado como se num vidro de laboratório, pode ser sentido como uma estalada, mas sempre sob a égide de uma sensação imperiosa de que o que aqui está é isso mesmo, uma mulher ou uma parede, uma pedra ou um fio eléctrico. O caminho para aqui chegar tinha passado por diversas etapas, desde uma atenção cirúrgica aos restos urbanos, um olhar frontal sobre o que não merece senão uma visão de relance. Depois uma convivência sem distância com vidas que, também elas, só poderiam ser vistas de relance.
A série Rien, no entanto, na conversão ao preto e branco, ganhou uma realidade que só a fotografia pode conferir, sobretudo porque não se enredou em qualquer retórica poética sobre a potência do próprio preto e branco, nem se perdeu na criação de um discurso mais ou menos alegórico. A sua literalidade é o seu argumento, abrindo uma multiplicidade de possibilidades, frequentemente deceptivas para a análise – não há discurso que seriamente possa converter a imagem em metáfora de nada, nem de tristeza, nem de abandono, nem de cicatriz nem de nada.
(...)
Por vezes, quando olhamos para estas fotografias, somos confrontados com alguma memória do cinema de Pedro Costa, ou de Jean-Marie Straub. Porque as imagens são de um rigor formal equivalente e porque se atravessam perante nós, sem piedade.
Mas ao contrário do cinema, no qual o dispositivo cinematográfico está sempre presente– e voluntariamente presente, nos casos citados -, nestas fotografias o dispositivo fotográfico desapareceu, tornou-se translúcido. Não pensamos que entre nós e o que está perante nós há um processo e um fotógrafo porque a exposição daqueles corpos e daquelas paredes, daqueles lugares e daquele sexo foram feitas para alí estarem, apontando-nos como os seus destinatários, sem mediação, directamente tácteis, tão disponíveis como uma coisa qualquer que sempre ali esteve, exposta, por vezes tão discreta como uma pequena greta numa parede, uma gotícula, uma prega na pele de um fruto que secou, a doçura de uma pedra. Como se entre nós e este mundo respirasse um hálito que pode ser sentido.
Como se entre nós e as imagens não existisse nada.

(excertos do texto Nada de Delfim Sardo)

André Cepeda
André Cepeda nasceu em 1976, em Coimbra. Vive e trabalha no Porto. Frequentou o curso de fotografia na École des Art d’Ixelles de Bruxelas. Colaborou com diversas instituições como os Encontros de Fotografia, Centro Português de Fotografia e Fundação Ílidio Pinho, onde foi responsável pelo tratamento e digitalização de imagens do projeto www.anamnese.pt.

Expõe regularmente desde 1999, em Portugal e no estrangeiro. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian para a residência de artista na Faap, São Paulo, 2012. Esteve na Shortlist do Paul Huf Award, Foam Fotografiemuseum Amsterdão, 2011, no Prémio BESPhoto, 2010 e nos Prémios EDP - Novos Artistas em 2007. Desde 1999 que faz várias Residências de Artista e recebe encomendas institucionais, da qual se destaca a Trienal de Arquitetura de Lisboa 2010

Das suas recentes exposições individuais destacam-se: Rien, Museu do Neo Realismo, Vila Franca de Xira, 2013; Ontem, Gallery INVALIDEN, Berlim, Alemanha, 2012; Canal, com Eduardo Matos, Espace Photographique Contretype, Bruxelas, 2012; 2011, Centro de Artes Visuais, Coimbra, 2011; Untitled, Galeria Pedro Oliveira, Porto, 2010; Ontem, Espace Photographique Contretype, Bruxelas, Bélgica, 2010; BesPhoto 2010, Museu Berardo, CCB, Lisboa, 2010; River, Galeria Pedro Cera, Lisboa, 2009; BesPhoto 2010, Museu Berardo, CCB, Lisboa, 2010. Das suas exposições colectivas, destacam-se: I Bienal de Fotografia do MASP/Coleção Pirelli, São Paulo, 2013; Alternativa 2012, Wyspa Institute of Art, Gdansk, Polonia, 2012;Wherever I Lay My Camera Down is Home, Photographic Festival in Rome, Roma, 2011; Ré-collection, Espace Photographique Contretype, Bruxelas, Bélgica, 2010; Impresiones Y comentários -Fotografia Contemporánea Portuguesa, na Fundació Foto Colectania, Barcelona, Espanha, 2010; Mostra de Video Arte e Fotografia Portuguesa no Centro de Artes Helio Oiticica, Rio de Janeiro, Brasil, 2010; Paraísos Indómitos, Marco Museu de Arte Contemporânea de Vigo, Espanha, 2008; Where are you from?, Faulconer Gallery, Iowa, EUA, 2008; Uma Extensão do Olhar (Coleção PLMJ), Centro de Artes Visuais, Coimbra, 2005.  

Está representado  em diversas coleções públicas e privadas.

Inauguração: 22 de março, 18h00
Info:
www.ccctv.org
Horário: segunda a sexta: das 14h00 às 20h00; Sábado: das 14h00 às 18h00


Atividade Gratuita


Última atualização: 21.03.2014 - 12:12 horas
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