Torres Vedras

São Gonçalo de Lagos a Torres Vedras

01.09.2013

São Gonçalo de Lagos a Torres Vedras

Gonçalo nasceu por volta de 1360, na vila piscatória de Lagos, vindo a falecer em Torres Vedras, no ano de 1422. Com a idade de vinte anos, abraçou a vida religiosa no seio dos eremitas calçados de Santo Agostinho. Desde cedo se revelaria um orientador espiritual, mas também um gestor, vindo a desempenhar o cargo de prior em diversos conventos: entre 1394 e 1396, foi prior de São Lourenço, na Lourinhã, e em Maio de 1404, já era o prior de Nossa Senhora da Graça de Lisboa. Quatro anos depois, iniciou priorado no convento dos Agostinhos de Santarém e, a partir de 1412, no convento de Nossa Senhora da Graça de Torres Vedras, cargo que exerceu até à sua morte, fixada em 15 de Outubro de 1422.

Desde esta data, Gonçalo recebeu honras de santidade, tendo sido venerado como santo pela população. A necessidade de corresponder a essa canonização vox populi justificaria a edificação de uma sepultura (térrea) separada da dos outros religiosos, para receber o corpo do «santo», na capela-mor da igreja do convento, então situado diante da igreja de São Tiago, espaço que viria a ser concorrido por muitos fiéis, que procuravam a sua intercepção. A posse de relíquias contribuiu para o engrandecimento da instituição, que concorria desde 1474 com o convento de Santo António de Varatojo, mas também da localidade que detinha e agitava os seus poderes, do religioso ao social, passando pelo económico e pelo ideológico.

Em 1492, ocorreu a primeira trasladação das suas relíquias, sendo então depositadas num cofre, fechado com duas chaves, tendo sido colocado num arco feito para esse efeito na mesma capela-mor, devido ao elevado número de devotos e à falta de espaço no interior da igreja. Em 1518, a grande procura de terra da sepultura (a sua principal relíquia), obrigou à construção de um receptáculo para a sua recolha, tendo sido talhado um sepulcro de pedra com a imagem esculpida na tampa e terra da sepultura inicial onde, através de um buraco, os devotos introduziam os pés e os braços enfermos ou tiravam terra como remédio para vários males. A 5 de Agosto de 1559, deu-se uma segunda trasladação das relíquias de São Gonçalo (cofre), mas não do sepulcro, retirado entre 1570 e 1572, por ordem de Frei Gaspar Cão, para o antigo hospital de Santo André, ocupado pelos agostinhos desde 1544, no sítio do novo (atual) convento de Nossa Senhora da Graça, cujas obras apenas começaram a 7 de Setembro de 1578. Encontrando-se, porém, a igreja concluída em 1580, altura em que teve lugar a terceira trasladação, a 18 de Dezembro, para um nicho albergar o cofre das relíquias. Em 1640, teve lugar a quarta trasladação das relíquias e sepulcro para a capela-mor, onde se encontra atualmente.

Em 27 de Maio de 1778, Frei Gonçalo de Lagos foi canonizado, por autorização do Papa Pio VI. Feito que confirmaria as qualidades de Gonçalo, atestadas também na sua eleição para padroeiro de Torres Vedras já o século XV, memória ‘inventada’ pela hagiografia barroca. Gonçalo seria, porém, suplantado por São Martinho, em 1977, para se celebrar a cultura do vinho no 11 de Novembro, dia do feriado municipal. Hoje, juntos, marcam o início e o fim das festas da cidade, dois testemunhos da construção da identidade torriense na pluralidade cultural.

Carlos Guardado da Silva

Última atualização: 27.09.2019 - 10:31 horas
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