A lenda das matrioskas fala-nos de algo que se repete maravilhosamente e sem interrupção. Mas o que acontece quando um lenhador não quer fazer mais bonecas? Ou quando teme a natureza da sua própria criação? Esta pequena maneira de contar uma lenda que nos devolve a proteção do ventre materno, cruza a ideia de repetição com a unicidade da experiência de cada um face à criação.
Numa loja cheia de terra e frutos, plantas e bonecas em lugares improváveis, coloca-se o público perante o valor que cada um de nós atribui à terra e a simbologia que esta acende na nossa presença no mundo: para uns, morte, para outros, vida, para outros, sujidade, cor castanha, propriedade, fertilidade. Para crianças pequenas, contacto com o mundo. Um exercício de proximidade com o público, que estreia, numa bailarina, a vontade de romper a membrana que a separa do espetador e ruborescer, ou arrepiar-se a falar de nascimento. Ainda consegues sentir a barriga da tua mãe em redor do teu corpo?

O espetáculo foi apresentado também no Festival Bons Sons, em Cem Soldos, onde foi adaptado a uma das salas da Sociedade Club Operário de Cem Soldos.
Figurino, cenário, texto, interpretação e cocriação: Susana Domingos Gaspar
Coordenação artística: Vera Alvelos
Música: Rachmaninov, MaisterniaPisni e rádio local