IX Congresso Nacional da Rede Territorial Portuguesa das Cidades Educadoras

- Cidades educadoras, cidades das crianças, cidades para todos!
- Enquadramento na carta das cidades educadoras
Cidades educadoras, cidades das crianças, cidades para todos!
"Cidades educadoras, cidades das crianças, cidades para todos!" é o tema do IX Congresso Nacional da Rede Territorial Portuguesa das Cidades Educadoras que decorre entre 8 e 11 de novembro, no Centro Pastoral de Torres Vedras.
Convidamos os participantes deste Congresso a olhar a cidade a partir de uma nova perspetiva. Ao descer o nosso olhar uns centímetros, até ao nível de uma criança, percebemos que estamos a planear, a construir e a organizar cidades orientadas para adultos, muitas vezes adultos auto motorizados. Neste planeamento esquecemos as crianças e os seus cuidadores, os seniores e todos aqueles que circulam pela cidade, de certa forma, mais desprotegidos.
Percebemos se uma cidade é segura para as crianças e lhes oferece qualidade de vida se virmos crianças a brincarem na rua, a deslocarem-se de forma autónoma, a andarem de bicicleta e a serem crianças em liberdade. Um panorama, infelizmente, pouco comum nos dias de hoje.
Não se trata de infantilizar a cidade, não se trata de semear parques infantis em cada bairro, trata-se de tornar a cidade um espaço seguro e agradável para as crianças, onde estas gostem de estar e viver. Se o conseguirmos, estaremos a tornar a cidade e o espaço público num ponto de encontro para toda a comunidade. Uma cidade das crianças é uma cidade de todos, onde todos encontram o seu espaço, onde todos constroem a coesão social da sua rua, do seu bairro, da sua cidade.
Neste Congresso iremos refletir sobre três esferas que consideramos de grande impacto na vivência diária de uma cidade educadora:
Subtema 1: Brincar nas cidades educadoras
Brincar é um comportamento ancestral, uma ferramenta poderosa para crescer e aprender, a melhor forma de expressão de uma criança. Brincar é ser feliz!
Certamente, muitos de nós relembramos os momentos mais felizes na nossa infância através de brincadeiras em que juntávamos vizinhos e amigos da nossa rua, e nestas brincadeiras fizemos amigos para a vida. Vivíamos em liberdade e o mundo rodava apenas à nossa volta e à volta daquela brincadeira inesquecível que muitas vezes se prolongava até escurecer.
Poucas serão as crianças desta geração que vivenciam estas experiências. Brincam cada vez mais sós, estão mais fechadas em casa, mais sentadas no sofá, mais em frente a um ecrã. Não brincam na rua, não conhecem os vizinhos do lado, não têm grupos de amigos do bairro com quem possam viver as aventuras e desafios que em tempos nós vivemos.
Assistimos ao declínio do brincar que se tornou num ato cada vez menos social, menos rico em termos de experiências motoras, sociais, emocionais e cognitivas. Transformámos as crianças em mini adultos com agendas carregadas de manhã à noite, sem tempo nem liberdade para brincar.
Somos porventura a última geração que sabe o que é ser verdadeiramente feliz a brincar de forma livre, está nas nossas mãos devolver essa possibilidade aos nossos filhos e netos. Sabemos hoje que é a brincar que a criança mais aprende. Levemos esta ideia para a escola, para a rua, para a nossa casa, tudo é possível e tudo pode contribuir para criarmos crianças mais felizes e mais preparadas para o nosso mundo.
Subtema 2: Autonomia, mobilidade e sustentabilidade nas cidades educadoras
Cidades que priorizam os carros em relação aos peões, problemas de tráfego automóvel junto às escolas, ausência de crianças a andarem sozinhas nas ruas, espaço público reduzido a vias de comunicação entre dois pontos da cidade; estes são retratos comuns a tantas cidades do nosso mundo.
Há que devolver a confiança aos pais para deixarem as suas crianças saírem à rua sozinhas, há que criar condições para os avós trazerem os seus netos para a escola a pé, há que permitir que uma mãe ou um pai com uma cadeirinha de bebé se sintam cómodos a percorrer as nossas ruas, há que promover nas crianças a confiança necessária para brincarem livremente.
Mas, para que tudo isto possa acontecer novamente, temos de olhar a cidade com outros olhos, temos que voltar a questionar as nossas opções de planeamento da cidade, temos de ouvir os cidadãos, todos os cidadãos, das crianças aos mais velhos. Torna-se, assim, fundamental perceber o que os afasta do espaço público, ou melhor, o que os pode trazer de novo à rua e tornar as nossas ruas um espaço de encontro, onde as crianças podem brincar e mover-se de forma autónoma, onde as ruas são ponto de encontro das comunidades, onde as pessoas são mais importantes que os carros.
Subtema 3: Envolver e participar nas cidades educadoras
Sabemos hoje que não basta construir parque e ciclovias, sabemos hoje que não basta construir projetos fabulosos, mas que muitas vezes pouco dizem às pessoas. Quantos milhões de euros já foram gastos em intenções fantásticas, mas que não tiveram qualquer tipo de impacto na vida das nossas comunidades?
Muito antes da obra e do projeto, há que ouvir e trabalhar em conjunto com as pessoas, com as crianças, com os jovens, com os adultos e com os mais velhos. Todos eles nos podem ajudar a encontrar as melhores soluções, as soluções que de facto podem fazer a diferença para aquela rua, para aquele bairro.
Não se trata de demitirmos os poderes públicos das suas funções de planeamento e de governação, trata-se de pedir ajuda para tomar decisões mais adaptadas a cada comunidade, que conduzam a alterações para melhorar de facto o dia a dia de cada cidade.
Trata-se de envolver, de criar condições para a participação livre e informada de todos, trata-se de construir em conjunto as nossas cidades, indo cada vez mais ao encontro do verdadeiro conceito de Cidade Educadora.
Enquadramento na Carta das Cidades Educadoras
Olhamos para Torres Vedras como um território uno mas simultaneamente espaço de diferenças, com uma identidade que não esquece ser o resultado da interpenetração de múltiplos fenómenos ambientais, sociais e culturais. Uma cidade com intencionalidade educadora, que fomenta a formação para e pela cidadania – a afirmação de valores civis como a solidariedade, a liberdade, a igualdade, o incentivo à participação na vida da comunidade são materializados em políticas, programas e projetos desenvolvidas na mais estreita parceria com todos os elementos da comunidade – associações, escolas, instituições públicas e privadas. Um espaço público de educação, presumindo a educação como transversal a todas as políticas da cidade e convocando todos os cidadãos para a nobre tarefa de educar. Um território que entende a ciência, a tecnologia e a inovação como motores para o desenvolvimento da economia local e para o crescimento cidadão e por isso os trazemos para fora dos muros da escola. Um território em que a diferença é entendida como uma riqueza. Um espaço de vivência sempre em construção tendo a educação como caminho para o bem comum. Olhamos Torres Vedras como Cidade Educadora e por isso apresentamos um Congresso que tem como visão a construção de uma cidade que, ao preocupar-se com as crianças e com os mais frágeis, ao ser, portanto, uma cidade das crianças, é cada vez mais uma cidade de todos e por isso uma verdadeira Cidade Educadora.