Torres Vedras

Torres Vedras 1414 - Conselho Régio decisivo na preparação da conquista de Ceuta

01.01.2015

Torres Vedras 1414 - Conselho Régio

Assinado o acordo de paz de Ayllón, em 31 de Outubro de 1411, que punha termo a um período de conflito de mais de quatro décadas entre os reinos de Portugal e Castela, era possível a D. João I pensar em desígnios maiores, entre os quais a tão desejada expedição, que se concretizaria em 21 de Agosto de 1415, na conquista da praça muçulmana Ceuta.

A empresa foi pensada e planeada ao longo de seis anos, desde a decisão régia, que remonta pelo menos a 1409, segundo o cronista, testemunhando-o os acontecimentos sequentes. Em 1411, D. João I pedira ao papa de Avinhão João XXIII, o antipapa, o auxílio das ordens militares para a guerra contra os muçulmanos. Neste mesmo ano ou no seguinte, o soberano terá transmitido aos infantes o seu intento. E em 1412, o rei enviou uma embaixada à Sicília, tendo permitido ao Prior do Hospital, D. Álvaro Gonçalves Camelo, e ao capitão do mar, Afonso Furtado, quer na ida quer na vinda, aferirem as condições de defesa da cidade, bem como as características da costa para o desembarque, num ato de espionagem militar. As informações recolhidas em Ceuta foram apresentadas ao rei e aos infantes no paço de Sintra, garantindo as boas condições de desembarque. O prior do Hospital elaborou uma maqueta, mostrando-lhes “quaes eram os lugares per homde a cidade podia receber combate”, acrescentando o rei, no final da descrição, que “muito lhe pareceo aquella cidade azada pera o que elle desejava”.

Faltava ao monarca consultar duas pessoas: a rainha, D. Filipa, que recebeu entusiasticamente a ideia de os seus filhos se honrarem como cavaleiros ao serviço de Deus; e o Condestável D. Nuno Alvares Pereira. E faltaria ainda a consulta dos privados do rei, aqueles que integravam o seu Conselho, acontecimento que tivera lugar em Torres Vedras, antes das festividades do dia de Santiago (25 de julho), por volta dos dias 23 e 24 de julho de 1414, tendo o rei regressado à capital no dia 26. Não seria “huũa quimta feyra”, como refere o cronista, uma vez que no dia 21, sábado, o rei marcou presença em Sintra, de onde sairia para Torres Vedras, e, na quinta feira, dia 26, já se encontrava em Lisboa.

Faltaria ainda a consulta dos privados do rei, aqueles que integravam o seu Conselho, acontecimento que tivera lugar em Torres Vedras, antes das festividades do dia de Santiago

Para a reunião foram convidados, entre outros ‘senhores e fidallgos que auiam de seer em aquelle comsselho’, o Conde de Barcelos D. Afonso de Portugal, o CondestávelD. Nuno Alvares Pereira, os mestres das ordens militares (D. Frei Lopo Dias de Sousa, da ordem de Cristo; D. Frei Mem Rodrigues de Vasconcelos, da ordem de Santiago; D. Frei Fernão Rodrigues de Sequeira, da ordem de Avis; e D. Frei Álvaro Gonçalves Camelo, da ordem do Hospital), o marechal Gonçalo Vaz Coutinho, o alferes João Gomes da Silva e Martim Afonso de Melo, na sua maioria “homens do Interregno”, que apoiaram então o regente Mestre de Avis. Junto do rei, encontravam-se os infante D. Duarte, D. Henrique e D. Pedro, o escrivão da puridade, e Gonçalo Caldeira, escrivão da Câmara do Rei.

No conselho, quebrando-se o protocolo, tomou voz, depois do monarca, Nuno Álvares Pereira, para louvar o serviço de Deus que a expedição representava, facto que assegurava a bula Eximie deuocionis do papa João XXIII, de 20 de Março de 1411, e que associava a D. João I as ordens militares na guerra santa contra os cristãos ou sarracenos, inimigos do reino cristão. Bula de cruzada vinda do papa de Roma em pleno Cisma, o mesmo papa que o monarca português quase sempre apoiara, que legitimava também a figura de D. João I no trono de Portugal e reforçaria o seu papel no quadro dos reinos ibéricos e da Cristandade.

O destino a seguir tornou-se conhecido na reunião, segundo Gomes Eanes de Zurara, tendo sido aventado pelo vedor da fazenda, João Afonso de Alenquer, que tomara conhecimento dessa “muy grande cidade, riqua e muy fermosa”, por informações de um criado que lá mandara para resgatar cativos.

Carlos Guardado Silva

Última atualização: 26.09.2019 - 16:44 horas
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