Torres Vedras

O cerco ao Castelo por D. João, mestre de Avis, em 1384-1385

01.01.2014

O cerco ao Castelo por D. João, Mestre de Avis, em 1384-1385

Do casamento de D. Fernando (1367-1383) com D. Leonor Teles tinha sobrevivido apenas uma filha, a infante D. Beatriz, que, por proposta de seu pai, firmada no tratado de Salvaterra de Magos (1383), seria desposada por D. João I de Castela, o que acontecera em Maio de 1383. O filho varão que nascesse deste casamento herdaria o trono de Portugal, acaso D. Fernando I não tivesse descendentes até à sua morte. O monarca faleceria em 22 de outubro de 1383, sem herdeiros masculinos, tendo-se iniciado uma crise de sucessão.

Esta não era, porém, uma solução apoiada pela maioria dos portugueses, uma vez que se a morte de D. Beatriz ocorresse antes da de seu marido e sem herdeiros, tal resultaria na perda da independência de Portugal. Outros dois candidatos ao trono emergiram, ambos de nome João. Acabaria por se destacar D. João, Mestre de Avis, que, após a proclamação de D. João I de Castela como rei de Portugal, o povo de Lisboa aclamaria, em meados de dezembro, ‘Regedor e Defensor do Reino’.

Neste contexto, diversas vilas e cidades tomaram voz por D. Leonor Teles, e, depois da renúncia desta à regência do reino, por D. Beatriz, que o Mestre de Avis e Nuno Álvares Pereira tentariam tomar entre 1384 e inícios de 1385. Tal sucedeu com a vila de Torres Vedras, senhorio das rainhas desde D. Afonso III.

Era então alcaide de Torres Vedras Fernão Gonçalves de Meira (1382-1384), que tinha prestado homenagem ao monarca castelhano quando este se dirigia, em Maio de 1384, de Santarém para Lisboa para colocar cerco à cidade. Entretanto, outro alcaide lhe sucedera, de nome João Duque, que ocupava o cargo no momento do assalto das forças portuguesas ao castelo de Torres Vedras, em inícios de dezembro de 1384. Cerco que tivera início antes do dia 10, posto por João Fernandes Pacheco, casado com D. Aldonça Eanes, uma senhora da elite torriense, detentora de um vasto património na vila e termo.

Segundo Fernão Lopes, os castelhanos ocupavam o castelo e a vila, encontrando-se João Duque bem acompanhado de homens de armas, peões e besteiros. Por seu turno, os portugueses encontravam-se no arrabalde, a sul do castelo, instalando-se os seus chefes defronte da entrada da fortaleza, no Paço ‘erguido’ por D. Beatriz de Gusmão, em finais do século XIII. No final do cerco, entre as tropas de D. João e de Nuno Álvares Pereira, os partidários do Mestre contavam com cerca de mil e oitocentos homens.

Todavia, dois meses depois, rodeado por forças hostis (Sintra, Alenquer, Óbidos e Santarém), o Mestre de Avis teve de levantar o cerco e dirigir-se a Coimbra, onde se reuniria a Corte e na qual seria aclamado rei de Portugal. Os moradores do arrabalde, pressionados pela fome e pelo receio das retaliações dos Castelhanos, juntaram-se com mulheres e crianças ao exército português, deixando para trás as suas casas. Um êxodo urbano, dramaticamente descrito pelo cronista, que ajudará a explicar o acentuado decréscimo da população da vila, entre finais do século XV e inícios do século XVI.

Carlos Guardado da Silva 

Última atualização: 27.09.2019 - 10:20 horas
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