Torres Vedras

Joaquim Silva

01.07.2016

Joaquim Silva

Joaquim Silva é um septuagenário residente no concelho de Torres Vedras, mais concretamente no Casal das Giestas (freguesia dos Campelos), local que se situa na confluência com o concelho da Lourinhã e também próximo dos concelhos do Bombarral e do Cadaval. Benfeitor local, uma figura próxima da do regedor, tem investido a sua vida não apenas na atividade agrícola e também industrial, mas, mais do que isso, em obras de melhoria do casal onde vive que foi outrora “uma pequena quinta”. À [Torres Vedras] Joaquim Silva falou das obras que tem realizado no Casal das Giestas, da evolução material a que se tem assistido nas últimas décadas, do seu percurso de vida, do panorama agrícola e dos elos de ligação que tem criado entre diferentes pessoas e concelhos da região.  Segundo ele, a qualidade de vida nos tempos atuais é incomparável com a dos seus tempos de infância e juventude…

 

Começava por perguntar-lhe a importância que teve para si a recente inauguração da ponte que tem o seu nome aqui no Casal das Giestas?

Estava combinado que quando a obra estivesse terminada se fizesse uma festa para comemora-la, mas foi-se adiando, até que fizeram a surpresa de pôr lá a placa com o meu nome e fazer a inauguração no local. Foi uma ideia dos presidentes das câmaras de Torres Vedras, Lourinhã e Bombarral, Carlos Bernardes, João Duarte e José Manuel Vieira. São três pessoas que considero como se fossem da minha família e que quiseram fazer aquela surpresa.

Para além dessa ponte, foi também responsável pela construção da igreja do Casal das Giestas, local onde estamos a fazer esta entrevista. O que o levou ao longo da vida a trabalhar de forma tão generosa para a sua comunidade?

É algo que já vem do meu pai, que também era todo amigo de ajudar, de participar, de fazer o possível para a família estar bem. Acontece que o meu pai foi das primeiras pessoas a vir para aqui. Este casal é todo de família, criado a partir de uma quinta de um avô. Pensou-se então em fazer uma igreja, inicialmente com o padre José Paula e o padre Hermenegildo. Primeiro até estava planeado fazer-se aqui um nicho, uma pequena capela, mas depois o doutor José Augusto, que é um grande amigo meu, e o padre Guerra, que conviviam muito aqui connosco, deram a ideia de fazer algo maior. E como nós aqui somos todos família, a padroeira da igreja ficou a Sagrada Família, como se pode ver ali na imagem. Como tínhamos o apoio das câmaras e alguma facilidade em adquirir materiais avançou-se com a obra.

Houve mais obras aqui no Casal das Giestas que tivesse feito para além da ponte e desta igreja?

Houve também uma outra obra importante para o Casal das Giestas, muito rica e útil, que uniu duas terras, e que incluiu também uma outra ponte, também de raiz, que foi feita por mim, até mais com ajuda de mulheres, em que pedi aos proprietários para cortar os terrenos para fazer a estrada respetiva e em que o traçado foi definido de forma a beneficiar todos os proprietários. A Câmara também ajudou dando o material. Essa obra permite o acesso ao Casalinho das Oliveiras e encurta a distância para os Campelos em 1km. Foi uma obra em que se juntou o útil ao agradável, porque as pessoas que querem vir aqui à missa dos Casalinhos das Oliveiras ou mesmo da Ribeira dos Palheiros facilmente chegam aqui. É uma estrada que tem um grande acesso e um grande movimento. Foi uma das obras fundamentais para o Casal das Giestas, para além da estrada principal, de ligação aos Campelos pelo Casal das Quintas, em que foi feito alargamento, alcatrão, empedramento, água e luz. Quero agradecer a todos os presidentes da Câmara Municipal de Torres Vedras pelo apoio que sempre deram à obra realizada no casal.

(…) Lembro-me que quando queríamos transportar os cereais e os vinhos era os carros de bois atolados até à barriga (…)

Lembra-se deste sítio quando era completamente diferente, com caminho em terra, sem infraestruturas, em outros tempos?…

Lembro-me que quando queríamos transportar os cereais e os vinhos era os carros de bois atolados até à barriga. Era uma tristeza viver assim. Não era só aqui, era em vários lados. Não havia estradas, não havia acessos, não havia nada, era só carreiros. Por isso muito antes de começarmos com a obra da igreja, foi o empenhamento nos meios de acesso ao casal. Após a estrada veio a água e veio a luz, uma obra do Dr. Alberto Avelino, que também é um grande homem e também esteve muito ligado a nós. E depois de concluídos os acessos é que se pensou em fazer esta grande obra [a igreja do casal das Giestas]. Era um terreno privado, o lote do meio fui eu que pedi e o terreno foi dado, à frente, comprei o terreno e doei à igreja, o lote do fundo foi o meu pai que comprou e doou à igreja. A igreja foi o resultado do empenhamento de diversas pessoas e empresas, e que para mim tem um valor extraordinário.

Tem tido a capacidade de que muitas pessoas a título individual ou empresas ajudem nestas suas intervenções…

Sim. A base fundamental é criar amizade com as pessoas. Não fazemos uma obra só para ser importante. Fazemos obra depois de criar um elo de ligação com as pessoas. E a amizade que vamos criando com as pessoas vai permitindo que se façam grandes obras.

Como falamos há pouco, os tempos de antigamente eram completamente diferentes. Após o 25 de abril as coisas mudaram. Hoje temos um país muito mais avançado, comunidades com muito melhores equipamentos. Como tem visto toda esta evolução da sociedade em termos materiais?

Hoje em dia o hábito das pessoas é dizer mal de tudo. Mas quem conheceu isto há 50 anos atrás, eu tenho 73, a vida, os acessos, os meios de comunicação, a maneira de viver, era completamente diferente… Hoje vivemos todos bem, aliás, uma grande parte das pessoas vive bem, mas ainda dizem mal. Vejo muita gente a dizer mal quando às vezes estão bem demais. Muitas vezes o que acontece é que os que dizem mal não fazem nada para que as coisas melhorem. Só têm o hábito de dizer mal. Lembro-me do tempo do meu pai, de como se vivia nessa altura, e como se vive hoje, em relação à forma como os meus avós viveram. Vive-se num clima maravilhoso. Aqui, no Casal das Giestas, não falta nada. Graças a Deus, temos tudo.

Este casal inicialmente era uma quinta…

No tempo dos meus avós era uma pequena quinta, embora muito antiga. Foi retalhada, dividida para os meus tios, para os meus primos, para mim, cada um tem aqui o seu bocadinho de terra, uns maiores, outros mais pequenos, mas todos nós vivemos aqui bem. Temos aqui a nossa comunidade, as nossas casas, graças a Deus não temos dificuldade nenhuma aqui no casal.

(…) Não fazemos uma obra só para ser importante (…)

O senhor Joaquim tem já uma vida longa. Sempre viveu aqui. Foi uma vida feliz?

Sempre vivi aqui. Tenho a honra e o prazer de pertencer ao Casal das Giestas e de pertencer ao concelho de Torres Vedras e sinto-me feliz de viver aqui no casal.

Fez a sua vida maioritariamente como produtor agrícola…

Foi sempre. Embora chegasse a ter uma exploração de artigos de cimento no Bombarral, durante 30 anos, mas passava sempre aqui os fins de semana, outras vezes vinha todos os dias a casa. Mas sempre vivi aqui no casal. Ainda tenho o meu património no Bombarral, mas o meu ninho foi sempre o Casal das Giestas.

A sua atividade agrícola foi sempre fundamentalmente a produção de batata…

Antes produzíamos batata, vinho e alguma fruta, antigamente, no tempo dos meus pais. Mas a parte vinícola deu o que deu e a nossa agricultura aqui tem sido só batata, da minha parte. Aqui na zona do casal há também criação de gado, uma zona de estufas muito grande, várias coisas, é um sítio previligiado de grandes produções, também de hortícolas, tomates, couves, fruta. Aqui pegado ao casal temos talvez uma das maiores áreas de produção de pera rocha. Estamos rodeados de coisas maravilhosas…

Há alguns anos falou-se de uma certa crise na agricultura em Portugal e nomeadamente na região. Pensa, no entanto, que a agricultura nacional tem futuro?

Eu penso, a agricultura tem futuro. Mas tudo depende é da maneira como se faz agricultura. A agricultura para ter rentabilidade tem de ser feita com áreas grandes e com tecnologias. Não é agora fazer batatas ou vinho ou pera rocha com parcelas pequenas. Isso é totalmente um desperdício. Hoje em dia ou faz-se agricultura em áreas grandes em que haja rentabilidade e que seja compatível com o mercado ou então fazer em áreas pequeninas é chover no molhado. Não dá. Estamos agarrados ainda a mentalidades muito complicadas. Os outros países desenvolveram-se porque o emparcelamento foi feito, com áreas grandes. E hoje os pequenos agricultores estão a ser dominados pelas agriculturas que se fazem em grandes dimensões, e a nossa agricultura tem estado de rastos por esse motivo. Não se investe na tecnologia, quando há países em que um agricultor produz tanta batata como Portugal inteiro e como é óbvio pode vender o produto por metade do preço e ganha mais do que nós com o dobro do preço. Os custos de produção são diferentes.

(…)a agricultura tem futuro (…)

Mudando um pouco de assunto, mas voltando um pouco ao que já falamos, o Casal das Giestas tem proximidade com três concelhos. E o senhor Joaquim teve sempre muito boas relações com as câmaras de Torres Vedras, Lourinhã e Bombarral…

Graças a Deus, sempre fui um elo de ligação. Como disse, estive 30 anos no Bombarral, como estou muito perto do concelho da Lourinhã também tive sempre um elo de ligação muito profundo com essa câmara. Antes do 25 de abril já era um menino da câmara de Torres Vedras e a partir daí todos os presidentes de câmara foram considerados os meninos ricos do Casal das Giestas. Foram sempre bem estimados, acarinhados, aqui. E grandes obras aqui no casal deve-se também ao Dr. José Augusto, que foi um grande homem. E é com a amizade, o carinho e o afeto que a gente consegue as obras.

O Casal das Giestas sempre foi então um ponto de encontro para pessoas de vários sítios e várias cores políticas…

Aqui no Casal das Giestas a cor política é o coração das pessoas. Se a pessoa é bem comportada, se merece carinho, se merece afeto, é bem recebida, se não é, não se manda embora, mas o elo de amizade não é vinculativo.

A sua generosidade em trabalhar em prol da comunidade tem também a ver com a sua formação católica?

Sim, o meu pai dedicou-me à igreja, a mim e aos meus irmãos. Eu e a minha família somos todos católicos e foi esse motivo que me deu coragem e força para avançar com esta obra.

Acha que tem sido uma pessoa abençoada?

Graças a Deus que sim, mas o que eu tenho sido não o devo a mim, mas a todas as pessoas que me rodeiam, porque a minha igreja são as pessoas. Isto [o edifício da igreja do Casal das Giestas] é a minha segunda igreja. A minha verdadeira igreja, tive o prazer de dizer ao cardeal patriarca de Lisboa, António Ribeiro, quando veio fazer a inauguração desta obra, é as pessoas. São as pedras angulares da minha igreja, e é com estas pedras angulares que eu tenho conseguido fazer obras.

Gostaria de deixar alguma mensagem?

Queria que estivéssemos todos bem, e um agradecimento muito especial às três câmaras pela forma como me têm recebido, como se têm ligado comigo. E tem sido maravilhoso ter estado com as pessoas que têm passado por estas câmaras.

(…) a minha igreja são as pessoas (…)

Tem algum projeto em especial para o futuro, algum desejo que gostasse de concretizar neste casal?

O meu projeto agora para o Casal das Giestas era acabar os esgotos e concluir as estradas com um bocadinho de tapete, e mais uma ou outra pequena obra que se poderia ser feita aqui.

Vê o futuro com otimismo? Vê o futuro da Humanidade de uma forma positiva?

Vejo. Isto não está tão mal como se diz, não está tão mal como se fala, porque no tempo em que precisávamos de trocar o fermento e o pão, e pedir o pão e pedir isto e aquilo, isso acabou, pelo menos aqui, na nossa zona. Vivemos tão bem, porque havemos de dizer tão mal? O que está muito mal é o que às vezes ouvimos nas notícias, os grandes senhores deste país fazerem coisas que não deviam fazer. Se estamos à frente de uma comunidade, temos de nos portar bem. Aquilo que eu fiz sempre na minha vida foi portar-me bem. Bens materiais e monetários, não pertence, não se mexe. Se todos agíssemos assim, todos vivíamos no paraíso já neste mundo. Respeitar-se uns aos outros e dinheiros e bens materiais ter muita sensibilidade em lidar com as coisas. Se assim fosse a gente vivia todos neste mundo já felizes.

Última atualização: 06.07.2016 - 16:54 horas
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