Torres Vedras

Do Choupal

01.07.2014

Do Choupal

Já em finais da centúria de Setecentos se encontrava a norte da vila, na margem direita do Sisandro, entre a vala e o aqueduto do chafariz de São Miguel, um intenso arvoredo de elevados choupos, então designado bosque do Jardim. A maioria destas árvores seria cortada durante a construção das Linhas de Torres Vedras. Em 1823, o bosque do Jardim seria, porém, restaurado, por iniciativa da Câmara, que estenderia a plantação de árvores até à ermida de Nossa Senhora do Amial, em 1852. Assim se entende os diferentes nomes pelos quais era chamada a várzea pequena (por oposição à várzea grande, a sul da vila) nas primeiras décadas do século XX: por Choupal, dada a presença de choupos em elevado número; pelo epíteto de Jardim ou Parque do Jardim que perdera a referência ao ‘bosque’, ou ainda por Alameda da Senhora do Amial (já referenciada em 1910).

Desde pelo menos 1267, ali se encontra o chafariz de São Miguel (então junto de um olival), que deve o seu nome à proximidade da igreja matriz da invocação do arcanjo. O chafariz tinha um brasão de armas moderno, recolhido no Museu Municipal Leonel Trindade, certamente da primeira metade do século XVI, a exemplo de outros que a então vila de Torres Vedras conheceu. Seria reconstruído na segunda metade do século XVII, como testemunha a data inscrita na pedra que o encima.

A valorização deste espaço aconteceu nas primeiras décadas do século XX, mormente no contexto da Exposição Agrícola Pecuária e Industrial, que ali teve lugar em agosto de 1926, transformando-o em Parque, com baloiços e bancos de jardim. Em 1934, foi apresentado o projecto de construção da estrada de ligação da vila ao forte de São Vicente (actual rua Linhas de Torres). Na mesma altura, foi coberta a vala do já designado Parque do Choupal, abrindo-se, de seguida, o concurso para a construção da referida estrada, concluída em 1937.

Próximo, localizava-se a ponte de São Miguel, uma das pontes medievais torrienses mais referidas na documentação, que permitia aos moradores da vila atravessar o rio para o norte, mas também tomar outras vias em direção a Lisboa, pelo litoral, atravessando a fértil região agrícola de Randide, ou por Dois Portos, seguindo, em ambos os casos, de perto o Sisandro, pela margem direita. Entre as pontes de São Miguel e Pedrinha (mais tarde da Mentira), localizavam-se na Idade Média moinhos de água e azenhas.

Para a Exposição Agrícola Pecuária e Industrial, instalaram-se coretos no Choupal, que seriam rendilhados e de materiais mais perecíveis. A construção em pedra da base do coreto aconteceria mais tarde, em data anterior a 1964. Para vedar o Parque, adquiriram-se 2.000 arbustivas ‘acquia pinata’, e, em 1938, fez-se uma barragem no rio Sisandro, tendo a Câmara adquirido 6 barcos de recreio. Paulatinamente, o Choupal tornara-se um dos centros de atracão da vila, com uma dimensão que permitia acolher mercados e feiras, eventos que, até 1958, tinham lugar nos terrenos onde se erguera o palácio de justiça, razões que justificavam a aproximação de serviços. Do lado nascente, surgira em 1960 a Foroeste, com venda de combustíveis a partir do ano seguinte. Junto ao rio, Carlos Lopes de Oliveira instalara um café em 1962, enquanto António Faustino Ferreira abrira, no ano seguinte, uma taberna junto a Nossa Senhora do Amial. Em 1975, o Choupal acolheu um parque infantil e um campo de jogos, e, em 1976, teria lugar no Parque do Choupal a festa do 1.º de Maio, festa que ali se manteria ao longo das duas décadas seguintes, articulando o desporto e a música, com um baile que entrava pela noite, festa que forjaria em parte da identidade do Choupal.

Carlos Guardado da Silva 

Última atualização: 26.09.2019 - 17:26 horas
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