Torres Vedras

A Revolução de Abril

01.03.2012

No início de 1974, em toda a sociedade portuguesa emergiam focos de contestação ao regime. O descontentamento era geral e já nem a censura o conseguia silenciar. Os mesmos sentimentos eram vividos pela população torriense, que via o concelho de Torres Vedras excluído do desenvolvimento.

A campanha para as eleições de 1973 trouxe a Torres Vedras a polícia de choque, que voltaria, a 20 de janeiro de 1974, por ocasião da romaria à campa do antifascista Fernando Vicente (do Paul), no cemitério de São João, convocada pela oposição, dominada pelo Partido Comunista Português. Em vésperas de Abril, também a oposição ao regime recrudescia nas escolas secundárias locais, através da distribuição clandestina de propaganda política, motivando interrogatórios a alunos e professores, assim como a intervenção da PIDE/DGS no seu quotidiano. No mesmo sentido, algumas coletividades, entre as quais o Cineclube e o Clube Artístico e Comercial, imprimiram a sua atuação cultural e política.

Todavia, a queda do regime fazia-se adivinhar. Ao som de “E depois do Adeus”, de Paulo Carvalho, canção vencedora do Festival da Canção RTP, o Movimento das Forças Armas iniciava a Revolução, que se concretizaria no final do dia 25, por entre uma multidão que celebrava a Liberdade com cravos vermelhos. Marcelo Caetano, o então Presidente do Conselho, apresentava a sua rendição incondicional. Na mesma noite, apresentou-se ao país um novo órgão de soberania, a Junta de Salvação Nacional, presidido por António de Spínola.

Em Torres Vedras, ironicamente, na noite de 24 de Abril, teve lugar mais uma sessão no Cineclube, com o filme “O morto era outro”, de Jerry Lewis. Tomou-se conhecimento do golpe militar na manhã de 25 de Abril, através dos comunicados emitidos pela rádio, e, à noite, teve lugar um comício no Largo da Graça. No dia seguinte, ocorreu uma grande manifestação popular de aclamação e apoio ao Movimento das Forças Armadas, centrada na Avenida 5 de Outubro e Praça do Império.

Quatro dias depois, teve lugar a primeira reunião da câmara municipal, contestando-se a sua legitimidade, assim como as decisões por si tomadas por não representarem a vontade do povo. A 13 de Maio, o executivo reunia pela última vez, cessando as suas funções. Das 18 pessoas eleitas no plenário realizado no campo de jogos do Sport Club União Torreense, no 1.º de Maio, 9 membros constituiriam a Comissão Administrativa Municipal, presidida por Francisco Manuel Fernandes, que substituiria a Câmara Municipal. Os seus membros tomariam posse a 15 de Maio, no Governo Civil de Lisboa, reunindo, pela primeira vez, em 20 de Maio.

Carlos Guardado da Silva

Última atualização: 13.08.2019 - 15:22 horas
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