Torres Vedras

A Judiaria medieval de Torres Vedras

01.05.2012

A Judiaria medieval de Torres Vedras

Conhecem-se judeus em Torres Vedras desde o reinado de D. Afonso III (1248-1279), apesar da sua presença poder remontar pelo menos ao período da ocupação cristã da Estremadura, como parece evidenciar o poder económico e a influência política de alguns dos seus membros. Não conhecemos, porém, a existência de judiaria anterior ao reinado de D. Afonso IV (1325-1357), altura em que o monarca a constituiria, dotando-a de foros e privilégios que, na sequência de seu pai, obrigara os judeus a morarem em bairro próprio. Todavia, a separação de facto ocorreu anteriormente, dada a referência a um filho de João Pais «da Judaria», em 1322, testemunho da existência de um lugar apartado para os seguidores da Thorah. Em 1299, já a família judaica Guedelha morava em casas contíguas, nomeadamente Isaac Guedelha e D. Judas Guedelha, rabi-mor de D. Dinis e provável irmão de Salomão Guedelha, o rabi dos judeus em Torres Vedras em 1318. Deste modo, a Judiaria já marcaria a a vila medieval em finais do século XIII, ainda que só se tenha constituído formalmente no reinado de D. Afonso IV. Também a existência de uma sinagoga atesta a presença de uma comunidade judaica considerável na vila e termo. Pois ainda no reinado de D. Afonso III, o “capelão” dos judeus, a par de outros três membros da comunidade, aparece a testemunhar a doação de uma propriedade à infanta D. Sancha por Moisés e Aviziboa, moradores em Torres Vedras.

A Judiaria torriense ocupava uma só rua (no sítio da actual rua dos Celeiros de Santa Maria), onde, no início, conviviam homens das duas religiões. Mas a influência dos judeus de Torres Vedras, nomeadamente os rabi-mores de D. Dinis, D. Judas Guedelha e seu filho D. Guedelha, que lhe sucedeu no cargo em 1316, parecem ter contribuído para a sua remota existência, assim como para o recrudescimento da importância da sua comunidade, a que não seria alheia a participação da família Guedelha no arrabiado régio.

Em 1381, vinte e cinco famílias judaicas habitavam a vila de Torres Vedras, multiplicando-se o seu número a partir do século XV, com uma intensa actividade comercial. Nesta altura, a comuna contava com um cirurgião (Judas Lexorda, a partir de 1471, e José Mouçam, a partir de 1482) e vinte e um mesteirais. Com a comunidade em crescimento, tornara-se necessário o alargamento da Judiaria, em 1469.

Todavia, com a expulsão decretada em Dezembro de 1496, os judeus eram acusados e julgados de crimes de feitiçaria, más palavras e roubo. Apagar-se-ia a presença da sua comunidade, registada na toponímia e nos cartórios medievais, testemunhando a sua ligação às comunidades mosaicas de Atouguia e Lisboa, neste caso às famílias Negro ou Ibn Yahya. Outros porém, não deixariam qualquer registo escrito que os identificasse, ainda que tenham perpetuado a sua presença anónima nas diversas estelas funerárias medievais, inscrevendo nelas o pentalfa.

Carlos Guardado da Silva

Última atualização: 27.09.2019 - 18:08 horas
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