O princípio da incerteza deixa-nos sem chão, leva-nos a um estado semi animal onde os seres da terra são obrigados a agir de acordo com aquilo que realmente são. Cai-nos a máscara, como disse a Maria Fonseca aqui em casa.

A vontade de verdade que nos há de arrastar ainda para muitas aventuras, essa célebre veracidade de que todos os filósofos falaram até agora com veneração, quantos problemas nos tem levantado essa vontade de verdade! Quantos problemas insólitos, graves, duvidosos! É já toda uma longa história, - e no entanto, não parece que ainda agora começou? Nietzsche.

A arte sempre foi um lugar de “quarentena”, uma proteção ideal para Cairmos no abismo desejado. Rompermos a pele e saltarmos muros. Já a quarentena real, imposta pelos governantes, não é aparentemente um lugar ideal porque não protege do medo, mas impõe um estado de sítio de incerteza, obrigando-nos a viver o presente imaculado. - Vive o agora! - é o que nos grita a quarentena. Vive o presente confinado a um espaço ideal de proteção.

Abres a janela no centro de uma grande cidade. Uma sensação de vazio. Ficcionalmente pode ser o momento de viver o medo de termos sido a única pessoa que tenha ficado num desaparecimento súbito de todos os cidadãos da terra. Uma forma radical de viver o ego e o individualismo que tantas vezes sonhámos e pensarmos o quanto a fragilidade é o lugar que nos pertence e que nos faz amar o próximo na liberdade de cada um.

                                 " Quereis viver “de acordo com a natureza”?"

                                                          Nietzsche

Um vídeo-performance incerto para um ato único

Criação: Miguel Moreira

Com: Cláudia de Serpa Soares, Hara Moreira, Maria Fonseca, Maria Mel

Música: Pedro Carneiro, Elgar (Cello Concerto in E Minor p.85) e improvisações ao piano de Jorge Rosado

Imagens de obras de: Rui Chafes, Yes Klein, Bert, Rodin e das peças “Fraternidade II” e “Num Reino Esquecido” Duas frases do início da música “Plainsong” by The Cure