A tecnologia ocupa um lugar (quase) inevitável na vida das crianças, mas será que todos estamos confortáveis com esse “lugar”. Estudos revelaram que em Portugal as crianças passam entre 2,5 horas e 4 horas por dia em frente a ecrãs (nos EUA esse número já chega a 8 horas); em contrapartida 70% das crianças portuguesas passam menos de 1 hora ao ar livre e apenas 4% se encontram com os seus pares fora do contexto de atividades estruturadas.

Como pais, todos queremos o melhor para os nossos filhos, claro. Mas será que temos plena consciência de que a forma como estruturamos o seu tempo tem impacto nas pessoas que serão? O psicólogo Eduardo Sá afirmou numa entrevista: “O que me preocupa é que os pais muitas vezes digam que quando eram crianças brincavam, tinham uma vida ao ar livre, tinham uma vida muito mais livre, e que não queiram dar aos filhos aquilo que eles tiveram de melhor na sua infância.” Partiremos daqui para discutir o porquê de chegarmos a estes números, quais os impactos já visíveis e previsíveis na vida dos nossos filhos; mas sobretudo discutiremos alternativas para promover uma vida mais feliz e saudável para as nossas crianças e comunidades.

Francisco Lontro

Formado na área da psicomotricidade e saúde mental infantil e com um percurso profissional (formação e prática) ligado ao desenvolvimento infantil, à promoção da família e à inovação social, sempre perspetivando o “jogo” e o “brincar” como mediadores centrais das suas intervenções.

Coordenador do programa Brincar de Rua, que está a desenvolver uma metodologia de empoderamento das comunidades no sentido de providenciar as condições necessárias para que as crianças voltem a poder brincar na rua, em segurança, combatendo assim o sedentarismo infantil e promovendo as relações e a participação da comunidade na vida dos bairros.